
Sobre a Escolha da Profissão
Hoje lembrei de ti, irmão.
Sempre me pergunto de onde veio a ideia de ser psicóloga. Nunca soube responder a esta pergunta. Sempre dei uma resposta vaga, tão vaga quanto a minha certeza. Lembrei que quando fiz o psicotécnico na PUC RS, fui reprovada. Me foi dito que eu não tinha condições de ser psicóloga. Mais tarde entendi que não devia falar sobre as preocupações que tinha em relação ao meu irmão. Ingenuamente usei o momento de entrevista para falar de uma angústia que me acompanhou desde a infância. Como uma estudante de psicologia que me entrevistou na época, tão imatura como eu, poderia ter o discernimento e prática para efetivamente analisar a personalidade de uma candidata ao curso de psicologia? Não desisti, me formei em outra universidade e vi alguns colegas não ‘aguentarem’ o curso, adoecendo, abandonando o curso. Eu segui.
Mais tarde, já psicóloga, também enfrentei esta situação onde minhas preocupações com meu irmão foram consideradas secundárias pelo meu analista na época … tinham coisas mais importantes a tratar na análise pessoal, nas temáticas, na vida.
Hoje, me dou conta que o que realmente me levou para a psicologia foi justamente o meu irmão. Este que foi sempre tão intenso, provavelmente alguém que sofria de Transtorno de Humor, foi meu ídolo na infância, meu parceiro na adolescência e uma preocupação constante na vida adulta. Sempre me trouxe perplexidade suas atitudes, seu carisma, sua intensidade.
Muitas vezes meus sentimentos eram contraditórios, iam do amor ao ódio.
Ao perdê-lo, o sentimento foi de total desolamento, pois era algo anunciado, mas nunca esperado.
Devo isto a ele: ele me levou para a psicologia! A convivência com ele possibilitou o exercício da empatia, da paciência, da busca do entendimento a cerca do ser humano. Não fosse ele, talvez tivesse cursado Educação Física, Teatro, Filosofia – opções na época.
O que importa é que somente hoje, após mais de 30 anos de prática clínica, tive acesso a este insight!
Obrigada, Jayme, onde quer que estejas, por ter me oferecido tanto e possibilitado desenvolver-me nesta profissão que tanto amo.
(Texto escrito em maio de 2018)
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